Comédia teatral escrita por Marcos Damigo, com recursos do Edital PROAC Expresso nº 21/2020 do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo, e publicada pela Giostri Editora.

Trata-se de uma comédia ambientada na São Paulo de 1599 que parte de uma situação real: a visita do governador-geral do Brasil, Dom Francisco de Souza. Inspirada numa tradição de comédias que remonta a Aristófanes – e encontra no Brasil autores como Martins Pena e Arthur Azevedo, a obra lança um olhar crítico para um período que pode ser considerado um divisor de águas na história da cidade de São Paulo, quando a pequena vila de trezentos habitantes deixa de ser um povoado isolado do resto do mundo, na beira do mundo cristão em franca expansão, para se integrar aos fluxos mercantis nos primórdios do capitalismo. E isso apenas foi possível graças à intensificação das Entradas e Bandeiras, com a escravização de indígenas em larga escala.
Como escrever uma comédia que tenha como pano de fundo um período tão violento da nossa história?
A opção foi por um recorte que permita uma crítica de costumes, identificando questões já presentes naquele período com os dias de hoje, e trazendo à cena personagens que encarnassem tais contradições ao se posicionarem enquanto representantes do poder público: o Juiz (uma espécie de prefeito da época), um Vereador e um Procurador. Na pequena vila isolada do resto do mundo pela imensa e aspérrima Serra do Mar, única vila europeia afastada do litoral em terras brasileiras, eles têm de lidar com moradores revoltados e rebeldes, com o risco de um ataque indígena causado por um apresamento ilegal e, ainda por cima, com a iminente chegada do governador-geral, um nobre português e representante da coroa espanhola (já que estávamos no período conhecido como União Ibérica, quando Portugal foi governada pelo rei da Espanha).
Delineiam-se, assim, as bases que nortearam a composição desta comédia, que poderia ter como subtítulo “uma comédia sem final feliz”, subvertendo um dos princípios fundamentais do gênero cômico, o que não deixa de ser, também, uma triste piada. Algo, aliás, bem afeito ao nosso Brasil de hoje.
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16 de novembro de 2021
Esta ilustração abaixo é a arte criada para a divulgação da leitura dramática que ocorrerá no dia 7 de dezembro de 2021 às 20h no Giostri Teatro (Rua Rui Barbosa, 201, Bela Vista, São Paulo/SP) com os atores Luiz Damasceno, Leonardo Ventura e Giovani Tozi.
Uma curiosidade sobre a imagem escolhida para ilustrar a arte: trata-se de uma xilogravura publicada em Roma em 1515. Nela, vemos o rinoceronte-branco que foi dado de presente para o rei português. Há uma menção a esta história do rinoceronte do rei na peça, foi o primeiro animal desta espécie a chegar à Europa, em pleno período de expansão do império português graças ao período das navegações.
A leitura vai ajudar a sentir a relação da peça com o público, já que o texto será publicado antes de ter sido encenado, e a grande prova de um texto dramático é mesmo o palco, não é mesmo?
Após a leitura, haverá um bate-papo com o autor e o elenco.
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18 de novembro de 2021
Publicamos abaixo o vídeo que foi apresentado à comissão de seleção do edital PROAC 21/2020, onde fomos selecionados para desenvolver o texto da peça e publicar, o que deverá ocorrer em janeiro de 2021.
Nele, Marcos Damigo explica um pouco quais foram as ideias que originaram o texto, que está em processo de finalização para a leitura presencial do dia 7 de dezembro (mais informações acima.)
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26 de novembro de 2021
O primeiro rinoceronte a pisar na Europa
No início do século dezesseis, quando Portugal vivia seu apogeu em função das navegações que se estendiam pela Ásia, Índia, África e América, o rei Manuel I de Portugal ganhou de presente do sultão indiano Muzafar II um rinoceronte branco. Ganga, como foi chamado, era o primeiro exemplar vivo da espécie visto em solo europeu desde os tempos do Império Romano.
No dia do aniversário do rei era realizado um grande cortejo por Lisboa, e mostrar os animais exóticos era um modo de afirmar o poder e opulência do reino de Portugal. Mas as enormes patas de Ganga sujavam o caminho de lama e, consequentemente, emporcalhavam os pés da comitiva real, formada pela nobreza. Para resolver esse problema, o rei mandou calçar o caminho com pedras, e daí talvez venha a origem das famosas calçadas de pedras portuguesas, que enfeitam o chão de várias cidades brasileiras.
O fim de Ganga foi trágico… Dado de presente ao Papa, como parte de negociações do rei de Portugal com a igreja para garantir sua dominação nos locais onde estavam chegando através das navegações, ele morreu num naufrágio. Até sabia nadar, mas estava acorrentado e afundou junto com o navio. Ainda assim, seu corpo foi empalhado e enviado ao Papa.
Abaixo, uma xilogravura de Ganga. Apesar da simplicidade do desenho, o autor, anônimo, conseguiu captar a tristeza de Ganga por estar acorrentado, como se previsse seu triste fim.

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26 de novembro de 2021
A seguir, uma conversa entre Marcos Damigo e Paulo Rezzutti, consultor histórico do projeto, acerca das questões que envolvem a criação dramatúrgica com fontes históricas e sobre o período retratado:
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3 de dezembro de 2021
Marcos Damigo também conversou com o dramaturgo e roteirista Luís Alberto de Abreu, consultor dramatúrgico do projeto, sobre dramaturgia, teatro e história: